O Céu
Os corvos
E meu centro
Negros são seus olhos
Os sorrisos deles
Nossos quereres
Meus pensamentos
Negro é o teu cabelo
Minhas unhas
Teus poemas
E nossas canções
Negras são nossas sombras
E tudo o que proferimos
Pois assim, cultivamos o sofrimento
Para que não haja mais tanta dor
“Doce amargo”
Anticristo

*divulgação
O filme “Anticristo” me deu uma injeção de torpor logo no início. A cena explícita de sexo entre um casal, ainda não entendi porque, me entorpeceu no cinema. Um sorriso brotou levemente nos lábios, mas em sinal do desconforto latente naquele momento. Depois veio o riso. Rimos muito. Por pouco tempo.
O desfecho que levaria ao restante da história daquele casal estava acontecendo, em câmera lenta, preto e branco, numa impressionante fotografia cinematográfica. Digo impressionante sem nenhuma dificuldade. Simplesmente porque é. A cena de sexo intercalada com a aconchegante presença de uma criança te deixa curiosamente confuso. O conforto e o desconforto. O belo sob duas formas distintas. O prazer e a tragédia. Antagonismos típicos de uma pessoa observadora, estudiosa dos sentimentos humanos.
E assim começa “Anticristo”. Não são três, mas incomodou muito gente. Lars von Trier sabe como nos levar a sentir o que as personagens estão sentindo. Através das cores – ou da falta delas - , através das cenas chocantes, das cenas de dor, dos momentos de horror, dos momentos de amor, de ódio...e até os thrash’s.
Ouvi muitas reclamações no cinema. Principalmente dos homens. Mas achei que não estavam se atentando às singularidades das cenas, aos links que estavam nas entrelinhas de tudo o que estávamos assistindo naquele momento. É muito subjetivo – outras coisas, nem tanto. E isso dá o brilho devido à produção. Acho que todos estão acostumados à filmes hollywoodianos (que eu adoro, admito), tão fáceis, com tantos efeitos avassaladoramente hipnotizantes e tão vazios.
Pode até parecer tudo exacerbadamente dramático, mas eu gostei muito do filme. E sim, recomendo. É uma arte.