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quinta-feira, 29 de abril de 2010

Sobre o amor e a morte


Acordou às 10h. Olhou para o amor da vida dela de um modo diferenciado naquela manhã. A manhã em si não tinha nada especial: ainda era outono, o céu permanecia nublado e o vento continuava levemente gélido. ELA estava diferente .

Um vazio, daqueles que enegrecem até o âmago e enjoam, de tanto que nos fazem girar e chorar e, principalmente nos atam de uma forma ininteligível, a atingiu. Foi como ser atropelada por um caminhão a 150 km/h.

Muito tempo guardando o segredo, a dor e vergonha que sentia de si mesma. Era difícil admitir.  Não podia mais esconder. Nem chorar por ajuda. Só havia uma saída.
Ela encontrou com suas amigas em um badalado bar da cidade. Era um bar bonito, e tinha uma baladinha no subsolo – algo um tanto prive. Luzes coloridas, fumaça, sofás excêntricos e pessoas diferentes em cada pensamento. Ela conseguiu sentir a vida de todos por quem passou por um simples contato com a pele. De repente - (de repente mesmo, porque uma simples olhada para o lado direito revelou o seu fim) -  encontrou, uma pessoa discreta, delicada e tímida. Mas não reprimida, pelo contrário: apesar da timidez, o ser destacava-se por suas idéias firmes, por suas formas perfeitas e pelo sorriso arrebatador – sem contar o jeito engraçado como dançava. Conseguia sentir o cheiro de sua pele de longe. Estava feliz, queria sair dali e arrastar aquele corpo perfeito para o seu apartamento. Fez. E deu certo.

Olhou para o amor da vida dela de um modo diferenciado. A manhã em si não tinha nada especial: ainda era outono, o céu permanecia nublado e o vento continuava levemente gélido. ELA estava diferente .
Naquela noite, tinha certeza que tinha encontrado o que tanto queria, o amor. Todas as dúvidas que tinha foram liquidadas. Todo o medo que a afligiu durante sua vida veio à tona. “Porque tinha que ser ELA? Uma mulher? O que os pais diriam? Seria condenada a viver longe de sua família? Porque algo aparentemente tão comum hoje em dia esta me torturando tanto? O ideal de perfeição, de normal dos meus pais atingiu minha cabeça? Mas sou tão liberal! É tão normal! Deveria ser normal!”, pensava, num ritmo frenético.
Sem gritar por ajuda ela matou sua vida e o amor que sentia naquele momento. Já não podiam mais ser salvos, de qualquer maneira. Seus preconceitos tomaram-na em uma noite. Em uma maldita perfeita noite. Não queria aceitar.
O sangue vivo e vermelho corria pelos lençóis. Ela o fez ali mesmo, ao lado de seu amor. Nem conseguiu chorar. Foi tudo tão rápido! Sempre decidia tudo rapidamente! Precisava saber que em vida viveu ao menos um amor verdadeiro, mesmo que tenha sido apenas uma noite.
O canivete que escondia na cabeceira da cama foi o suficiente. Presente de seu amado pai. Ela se cortou, num momento clichê de filme de horror, ponta a ponta de seus pulsos.
Não conseguiu gritar, nem esconder. Ela era diferente. Ou igual a todo mundo.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Placebo - Every you Every me



[Cada você, cada eu]

Um amor dependente é um presente divino.
Você dá uns amassos, nossa paixão gasta.
Meu coração é ácido, seu corpo é aluguel.
Meu corpo quebrado e o seu torto.
Esculpa teu nome no meu braço.
Ao invés de estressado, fico aqui encantado.
Porque não há mais nada para fazer,
Cada eu e cada você.

Um amor dependente, uma caixa que eu escolho.

Nenhuma outra caixa eu escolho usar.
De outro amor abusaria,
Sem histórias para desculpar.
Na forma do que está por vir.
Veneno demais perde o efeito.
Porque não há mais nada para fazer,
Cada eu e cada você.
Cada eu e cada você,
Cada eu...

Amor dependente dá viradas.

Tende a grudar e gastar estas coisas.
Dê uns amassos, por caridade.
Nunca houve tanto em jogo.
Sirvo minha cabeça em uma bandeja.
É apenas é um consolo, vindo tarde demais.
Porque não há mais nada para fazer,
Cada eu e cada você.
Cada eu e cada você,
Cada eu...
Cada eu e cada você,
Cada eu...

Assim como o nu guia o cego.

Sei que sou egoísta, sou um grosso.
Um amor dependente, eu sempre encontro,
Alguém para machucar e deixar para trás.
Bem sozinho no tempo e espaço.
Não tem nada aqui, mas o que tem é meu.
Algo emprestado, algo triste.
Cada eu e cada você.
Cada eu e cada você,
Cada eu...
Cada eu e cada você,
Cada eu...
Cada eu e cada você,
Cada eu...
Cada eu e cada você,
Cada eu...
Cada eu e cada você,
Cada eu...
Cada eu e cada você
Cada eu...

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Alguma coisa a gente tem que amar

Por algum tempo eles ficaram separados. Opção dela.

Ela sempre prioriza, racionalmente, o sexo, a profissão e o futuro. Tudo friamente calculado.
Ele sempre almeja uma vida tranqüila, regada a sexo, carinho e companheirismo.

Talvez eles fossem muito diferentes. Talvez eles fossem apenas o reflexo do casal moderno. Na prática, tinham o “gostar de sexo” em comum.


Mesmo separados, ela pensava nele todo dia. Mesmo separados ele pensava nela todo dia.

No reencontro, para botar o papo em dia, em um bar qualquer pela fabulosa cidade de são Paulo, enquanto saiam do carro, ele agarrou a mão dela como se nunca tivessem ficado separados. “Não foi isso que eu havia planejado”, ela pensou . Mas mesmo assim não se opôs. Ao contrário: o agarrou ainda mais forte e pediu seu calor. Ali estava muito frio.

De repente um beijo macio e voraz ao mesmo tempo a alvejou. Queria resistir. Sem sucesso. Ela sempre sabe muito bem o que não quer. As coisas não são simples como todos falam. Um relacionamento estragaria toda e qualquer possibilidade de ela emplacar, de se dedicar inteiramente ao que gosta e onde pretende chegar. Ela é do tipo que ama demais.


A realidade é que se entregar, agora, não é uma opção.

Curtiram a noite como deveriam: rindo, falando besteiras, contando as novidades, falando sobre a vida...

Ao ir pra casa, ele fez declarações de amor. “Não quero ouvir. Pare de falar”, ela gritava por dentro. Ele declarou todo o amor que sentia por ela, por seus defeitos, suas qualidades, suas manias, seu jeito, o modo de falar, o modo de se mover, o sorriso, a risada, o olhar, o cheiro, o toque, as cores que pinta as unhas, o jeito de arrumar o cabelo, a maneira como dirige, a forma como xinga, como escreve, como pensa, como vive, como quer, como não quer, como ama – ou não, e até o mistério insuportavelmente torturante que a envolve. Em cada detalhe da vida comum dela, ele conseguiu fazer brilhar, como se ela fosse uma estrela em meio a uma escuridão algoz. “Você é o amor da minha vida”.

Ela ouviu tudo muda. Sem reação. Nunca poderia imaginar que seria isso. E ele saltou do carro, para esconder as lágrimas que faziam cócegas nas suas bochechas.

Pensando no passo que deveria tomar em breve ela seguiu, fria e sozinha, como queria estar, mas como no fundo, não desejava ficar.