Acordou às 10h. Olhou para o amor da vida dela de um modo diferenciado naquela manhã. A manhã em si não tinha nada especial: ainda era outono, o céu permanecia nublado e o vento continuava levemente gélido. ELA estava diferente .
Um vazio, daqueles que enegrecem até o âmago e enjoam, de tanto que nos fazem girar e chorar e, principalmente nos atam de uma forma ininteligível, a atingiu. Foi como ser atropelada por um caminhão a 150 km/h.
Muito tempo guardando o segredo, a dor e vergonha que sentia de si mesma. Era difícil admitir. Não podia mais esconder. Nem chorar por ajuda. Só havia uma saída.
Ela encontrou com suas amigas em um badalado bar da cidade. Era um bar bonito, e tinha uma baladinha no subsolo – algo um tanto prive. Luzes coloridas, fumaça, sofás excêntricos e pessoas diferentes em cada pensamento. Ela conseguiu sentir a vida de todos por quem passou por um simples contato com a pele. De repente - (de repente mesmo, porque uma simples olhada para o lado direito revelou o seu fim) - encontrou, uma pessoa discreta, delicada e tímida. Mas não reprimida, pelo contrário: apesar da timidez, o ser destacava-se por suas idéias firmes, por suas formas perfeitas e pelo sorriso arrebatador – sem contar o jeito engraçado como dançava. Conseguia sentir o cheiro de sua pele de longe. Estava feliz, queria sair dali e arrastar aquele corpo perfeito para o seu apartamento. Fez. E deu certo.
Olhou para o amor da vida dela de um modo diferenciado. A manhã em si não tinha nada especial: ainda era outono, o céu permanecia nublado e o vento continuava levemente gélido. ELA estava diferente .
Olhou para o amor da vida dela de um modo diferenciado. A manhã em si não tinha nada especial: ainda era outono, o céu permanecia nublado e o vento continuava levemente gélido. ELA estava diferente .
Naquela noite, tinha certeza que tinha encontrado o que tanto queria, o amor. Todas as dúvidas que tinha foram liquidadas. Todo o medo que a afligiu durante sua vida veio à tona. “Porque tinha que ser ELA? Uma mulher? O que os pais diriam? Seria condenada a viver longe de sua família? Porque algo aparentemente tão comum hoje em dia esta me torturando tanto? O ideal de perfeição, de normal dos meus pais atingiu minha cabeça? Mas sou tão liberal! É tão normal! Deveria ser normal!”, pensava, num ritmo frenético.
Sem gritar por ajuda ela matou sua vida e o amor que sentia naquele momento. Já não podiam mais ser salvos, de qualquer maneira. Seus preconceitos tomaram-na em uma noite. Em uma maldita perfeita noite. Não queria aceitar.
O sangue vivo e vermelho corria pelos lençóis. Ela o fez ali mesmo, ao lado de seu amor. Nem conseguiu chorar. Foi tudo tão rápido! Sempre decidia tudo rapidamente! Precisava saber que em vida viveu ao menos um amor verdadeiro, mesmo que tenha sido apenas uma noite.
O canivete que escondia na cabeceira da cama foi o suficiente. Presente de seu amado pai. Ela se cortou, num momento clichê de filme de horror, ponta a ponta de seus pulsos.
Não conseguiu gritar, nem esconder. Ela era diferente. Ou igual a todo mundo.