Me apresentou Elis Regina, Belchior, Elvis Presley e Ney Matogrosso porque é linda e me deixava ouvir seus discos quando chegava da escola. Me ensinou a língua inglesa mesmo não tendo estudado muito.Sabia muito de francês e latim, mas não se gabava por isso. Eu odiava quando não deixava eu e meu irmão alugarmos na locadora da esquina filmes infantis dublados. Costumava dizer que era perda de tempo e que deveríamos treinar nossos ouvidos. Cansei de voltar para trocar por uma versão legendada. Obrigada. Me introduziu à vida na adolescência, quando me alertou de que "quem com porcos anda, farelo come". Jamais esquecerei disso. Serviu na adolescência e acho que servirá pelo resto da minha vida.
E, mesmo agora, cheia de surpresas, por último, resolveu me ensinar a sentir dor, a enfrentar a dor, mesmo sem querer. Afinal, você é assim: esse poço de eterna sabedoria e gargalhadas escandalosas dos medos da vida finita - tenho a quem puxar.
Quando engravidei, falei para o Marcelo: "amor, tenho medo. Sempre que alguém nasce na família, outro vai embora". Não poderia imaginar que seria você, o pedaço de mim, que iria para proteger seu 3°bisnetinho. Mas, de qualquer forma, fico feliz que tenha esperado para conhecê-lo, porque, como anjo da guarda do filhotinho da sua primeira neta, você deve ter suspeitado que teria trabalho. Obrigada, vovó. Se sou quem sou, foi por sua causa. Esse buraco que agora fere meu peito, sei que vai se transformar e ficar mais forte um dia. Mas não agora, apesar de você sempre ter dito que gostaria de uma festa no dia da sua partida. Desculpe por desapontá-la. Não é fácil perder um grande amor. Me perdoe. Eu te amo. Sua, sua pra sempre sua, Jelequinha.
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