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sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Amor e ódio


Como podemos odiar tanto uma pessoa que já foi tão amada?
Você se lembra daqueles olhos que cintilavam ao luar, e subitamente te dá nojo.
Recorda-se das palavras doces escritas e enjoa com o açúcar dos dizeres.
Sente uma textura parecida com o que sentia com ela, e dá negativos calafrios.
Qual o problema?

Conheci uma senhora que estava casada há 70 anos com o mesmo homem. Setenta anos! Isso é um ultraje a minha paciência! Enfim, ela sentia-se completa e feliz com aquele senhor, que mal se alimentava sozinho. Certa vez, o amado daquela senhora resolveu sair sozinho pelas escadarias do prédio em que moravam – ele tinha medo de elevador. Nessa aventura, ele conseguiu mais do que adrenalina: conseguiu se estrupiar todo, quebrar vários ossos e ainda tempo para dizer ao zelador, que o encontrou estirado no térreo do prédio, que amava Tereza.

O zelador, muito prestativo, no dia do enterro do saudoso sr. José, do 2º andar, achou salutar comentar com a senhora Eteuvina, esposa do falecido, sobre as últimas palavras sussurradas de seu marido e o amor incondicional que sentia por Tereza (que o bendito achou que era a filha do casal). Subitamente Eteuvina teve uma crise de ódio extremo. Ela se lembrava de Tereza, ‘aquela sirigaita’, e isso a atingiu como um punhal no meio das costas. O ódio fez suas pernas tremerem, e, como um mal que estava possuindo seu corpo já judiado pelo tempo, abateu-a. Sim, a carinhosa D. Eteuvina morreu no dia do enterro do seu (ex) amado.

No dia do enterro, depois de uma vida (supostamente) coberta de amor, D. Eteuvina sussurrou no ouvido do fofoqueiro benfeitor: “Que esse maldito pereça em toda a sua infidelidade. O odeio”. E encerrou a vida odiando-o.

Nesse dia, depois de toda essa cena, passei em frente à Catedral da Sé, e roguei para que os dois não se encontrassem no céu e nem no inferno. Porque esse seria, realmente, um debate e tanto, com direito a morte.

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